Irmãs Salvatorianas

Encontro Nacional de Justiça, Paz e Integridade da Criação

Nos dias 29 de abril a 1º de maio de 2016 participei do Encontro de Justiça, Paz e Integridade da Criação, na Casa de Retiros Assunção, em Brasília – DF.  Esse evento foi uma Aliança estabelecida entre as comissões de Justiça e Paz da CNBB (CBJP – Comissão Brasileira de Justiça e Paz) e da CRB (JPIC – Justiça, Paz e Integridade da Criação).

Participaram 72 pessoas, procedentes de 20 Estados brasileiros e o Distrito Federal. Religiosas, religiosos, leigas, leigos e sacerdotes, impulsionados pelo compromisso com a Justiça e Paz, participaram ativamente desse encontro enriquecedor para todos.

Ir. Maria de Fátima Kapp (assessora executiva do Setor Missão – CRB Nacional) e Frei José Fernandes Alves CNBB – integrante das duas equipes CBJP e JPIC) acolheram os participantes, apresentando objetivos e a programação.

  1. Leonardo Steiner (CNBB), Dr. Carlos Moura (CBJP) e Ir. Maria Inês Vieira Ribeiro (CRB) fizeram a abertura do encontro dirigindo algumas palavras ao grupo:
  2. Leonardo iniciou agradecendo às Congregações pelo trabalho que realizam em nome da Igreja pelos e com os mais pobres. Ressaltou a importância de trabalharmos juntos pelo bem comum, de modo que a justiça sobreponha à norma e à lei. A justiça gesta a paz. Maior que a justiça é a misericórdia que, por sua vez, é desmedida.

Segundo ele, vimos que na Câmara Federal a justiça não foi a medida. Mas não podemos perder a esperança, nem podemos perder a capacidade de escuta e também não podemos ter medo de sujar as mãos. Que este encontro seja frutuoso e que nos anime a não ter medo de nos posicionar e de ser uma igreja em saída.

Irmã Maria Inês, presidente da CRB, também fez seu pronunciamento, enfatizando a importância desta “aliança para o bem”.

Dr. Carlos Moura (CBJP) expressou que “é preciso fazer o bem. Compartilhar, aprofundar e evangelizar identificando as ferramentas que vão nos conduzir”.

Em seguida Ir. Sueli Bellato coordenou as atividades do dia com orientação para trabalho em grupo: A partir da atitude dos Discípulos de Emaús, o que estamos pensando, dizendo e ouvindo pelo caminho?

Mesa: composta pelos Professores José Geraldo de Souza Júnior e Daneil Seidel, coordenada pelo Dr. Geniberto Campos: o professor José Geraldo fez uma reflexão com debate – Uma leitura do que está acontecendo. Há necessidade de uma postura de esperança, não sermos “técnicos de caixa-preta”, limitados a identificar culpados. Resgatar a compreensão da política como uma forma preciosa da caridade (EG) e como condição para transformar a sociedade. Necessidade de assumir o conflito para resolvê-lo. Percepção do processo de empoderamento do povo. Atenção ao duplo esvaziamento – ideológico e político. Foi sonegado ao povo ser sujeito de direitos e ator de sua própria história. Disposição espiritualizada de construir a paz- reduzir, suportar e resolver os conflitos. História brasileira – troca de favores, subalternidade. Luta por direitos é assimilada na criminalidade – reivindicar direitos – sujeitos transgressores. Dar a cada um o que seu, num sistema desigual, é manter pobres, sempre pobres e ricos sempre ricos. Recuperar a dimensão da democracia integral. Nossa responsabilidade não é fugir do conflito, mas suportá-lo e resolvê-lo. Alavancas de transformação social.

Professor Daniel Seidel apresentou três palavras geradoras: esgotamento, criminalização e aquecimento:

Esgotamento da democracia formal: raízes deste esgotamento: mentalidade colonialista, racismo e preconceito, clientelismo, autoritarismo, desprezo pelas mulheres, consumismo; sociedade em redes – “auto comunicação de massa”; autoritarismo (política do cala-boca); cidadania só pelo trabalho; isso é marca das instituições, da política e da cultura brasileira.

Criminalização da Política: reação com o “fígado”; crise política e econômica; contexto do impeachment da Presidenta; congresso nacional poderosamente fraco; politização do judiciário; novidades no horizonte – Frente Brasil Popular, Brasil sem Medo; pensar fora da política é barbárie, as pessoas reagem; atitude mais revolucionária é alimentar a esperança do povo.

Aquecimento Global: novo critério ético-global; ecologia integral; caminhos de superação: valorizar o que o povo é e tem; apoiar a organização popular, alimentar uma esperança profunda (utopia), promover a inclusão; referência ao discurso do Papa Francisco aos Movimentos Populares.

Após o jantar, grupos de religiosas e religiosos reuniu-se para dialogar questões pertinentes a JPIC, sua organização por regionais e por regiões, sendo a principal proposta verificar a possibilidade de realizar um Seminário JPIC em nível regional (regiões geográficas). Esse momento foi coordenado por Irmã Maria de Fátima e frei Wilson que introduziram e clarificaram a questão, encaminharam para grupos por região: Norte, Sul, Sudeste, Nordeste e Centro Oeste. Cada grupo foi acompanhado por um membro da equipe JPIC.

30 de abril

 Iniciou-se o dia com oração da manhã, contemplando a natureza e louvando Deus criador, conduzido por Irmã Jusciêda e Frei Wilson. O grupo seguiu em caminhada para o auditório, onde se deu a continuidade da oração.

Constituída a mesa, as Irmãs Maria de Fátima e Sueli Belato coordenaram a manhã toda. Irmã Maria de Fátima explicou de forma sintetizada marcos importantes da caminhada da comissão de Justiça e Paz da CRB Nacional. Ressaltou que nos anos de 1990 a CRB Nacional e algumas regionais instituíram equipes voltadas para a Justiça e a Paz, denominadas JUSSOL – Justiça e solidariedade. Estas persistiram por vários anos. Mas depois se enfraqueceram e, com o passar do tempo foram extintas.

A oportunidade propícia para se retomar essa dimensão de grande relevância foi a participação da presidente e um grupos de religiosas e religiosos do Brasil no congresso da CLAR (Conferência dos Religiosos da América Latina e caribe) sobre Justiça e Paz, em Lima no Peru em 2014

Dom Sérgio da Rocha, arcebispo da arquidiocese de Brasília e Presidente da CNBB: Ano Jubilar da Misericórdia: caminho para a construção da Paz e da Justiça.

Alguns aspectos: risco de não se dar o devido valor ao tema da Misericórdia; reduzir a temática à esfera do coração, do sentimento, sem uma incidência na práxis; a misericórdia precisa ser pensada com caminho de justiça e paz; em sua raiz etimológica hebraica, a misericórdia tem a ver com entranhas, útero, fecundidade; na tradução latina o auditse entende como “o coração voltado ao outro”; não tem como pensar misericórdia sem pensar naquele que mais sofre; numa expressão mais atual, as obras de misericórdia buscam traduzir justamente a ação que precisa brotar do sentimento, da compaixão pelo outro.

Aspectos indispensáveis para o Ano Jubilar da Misericórdia: a vivência do Jubileu na perspectiva bíblica; Ano sabático/Jubileu: tempo propício para a vida nova e com grande implicação social; a cada 7 anos (ano sabático) e ano jubilar (7 vezes o ano sabático); biblicamente, não há como falar de ano jubilar sem falar de misericórdia e justiça social: libertação dos escravos, descanso para a terra, perdão das dívidas; referências: Ex 21; Dt 15; Lv 25; há, da parte dos profetas, a denúncia da não-vivência do ano sabático/jubilar; em Lc 4, 16ss: retomando Isaías, Jesus proclama o Jubileu, o Ano Santo; só pode usar de misericórdia quem fez a experiência da misericórdia; atitudes que configuram o espírito jubilar: perdão, descanso; desafios hoje: encontrar caminhos para expressar o espírito jubilar em atitudes/posturas/ações concretas; dimensão da peregrinação: exercício da misericórdia que se faz juntos; necessidade de ajustar os passos e de estar atentos/as às necessidades dos/as peregrinos/as, romeiros/as; passar pela porta: a Igreja como “casa de portas abertas” – sentido eclesial; parábola do Pai Misericordioso: passar pela porta santa é uma maneira de reviver essa experiência bíblica; a importância da acolhida.

Encerrou-se as atividades deste dia com a oração do “ofício divino”, conduzida por Irmã Maria de Fátima. À noite teve uma animada confraternização e apresentações culturais, espontânea, por região.

01 de maio

A coordenação desse dia esteve com Frei José Fernandes e Gilberto Sousa.

  1. 1.      Celebração Eucarística presidia pelo Pe Domingos Chagas e concelebrada pelo Pe Edimundo Almeida dos Santos.
  2. Plenário sobre as discussões do dia interior – JPIC e CBJP:

Síntese JPIC: não banalizar a violência; levar a sério os encontros de fé e política e outros subsídios que temos acesso; manter o vigor JPIC, cuidar da nossa linguagem; trabalhar a educação para a cidadania e o diálogo na diversidade; posicionar-se sobre a conjuntura atual de forma clara; conceito de Paz mais abrangente; fortalecer e retomar círculos bíblicos, movimentos sociais e espaços de controle sociais; fortalecer o profetismo na VRC, opção preferencial pelos pobres; fortalecer nossa articulação e parceria com órgãos públicos; abrir nossos conventos para nossos jovens; resgatar Paulo Freire; formação religiosa e sacerdotal- formação política; usar da arte para acontecer no meio do povo; postura mais crítica com relação à cultura do descartável; três pilares: 1- Aliança JPIC e CBJP; 2- caminhar com fé, fé encarnada, reflexão política, fé, cidadania e vida; 3- Profetismo da VRC; reflexão bíblica nos grupos de  base: ser sinal de esperança.

Ainda durante o plenário foi sugerido e aprovado pelo grupo, elaborar uma carta pedindo o apoio dos superiores das congregações e CNBB para denúncias de injustiças ocorridas no Brasil.

Após o plenário dos grupos abriu-se para comunicados e Irmã Joana Aparecida Ortiz, membro da congregação Franciscanas de nossa Senhora Aparecida   (Mato Grosso do Sul) partilhou seu testemunho na missão indígena: foi instaurada uma CPI ilegal contra o CIMI; denúncia sobre a violência e assassinato contra os indígenas.

Objetivo da CPI: criminalizar o CIMI, dizendo que a igreja motiva a invasão das fazendas. Se essa onda pega, vai criminalizar outros movimentos sociais.

Em contraponto, CPI DO GENOCIDIO está proibido de se falar sobre a mesma.

Proposta: convidar a CBJP para visitar e ajudar na questão. Advogados do CIMI e religiosas estão sendo processados.

VRC sem profecia é pirata (Fr. José Fernandes). Religiosas/os correm risco de vida. A vida tem sentido onde o povo é sofrido. Assumir e correr os riscos.

Sugestão: tenda da VRC junto aos povos indígenas. Revezamento de religiosas no Mato Grosso do Sul para que a Irmã Joana não fique sozinha.

O testemunho de Irmã Joana tocou forte a assembleia que sentiu-se solidária e compromissada com a questão indígena.

Todos os participantes solicitaram a continuidade de encontros como este.

A aliança CBJP e JPIC deve continuar e se fortalecer.

Foi convidada a pessoa mais jovem do grupo e a de mais idade para expressarem o seu parecer e apreciação sobre o encontro. Estas partilharam a alegria da participação e que o encontro foi muito positivo, enriquecedor e que saem fortalecidas e motivadas para prosseguir no compromisso com a Justiça, Paz e Integridade da criação.

– Encerramento:

  • Dr Carlos Moura salientou a importância do encontro e de dar continuidade à aliança estabelecida entre CBJP e JPIC.
  • Irmã Maria Inês, baseando-se na expressão bíblica “decidimos o Espírito Santo e nós…” (At 15,38ª), reforçou que realmente foi uma aliança para o bem, “abençoada ideia da aliança”, para o Encontro das comissões de CBJP e JPIC. Concluiu convidando todos os participantes a manterem-se unidos na causa da Justiça e Paz e que o AMOR é a força que nos manterá fieis. 

O fruto da Justiça é a Paz

(Is. 32,17)

Ir. Maria José Vieira

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